quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Rabiscando 27/02/2013

Não justifica jamais o abuso ou a pedofilia! O ponto chave é que um sacerdote poderia ter uma esposa e filhos amando a Deus da mesma maneira!



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A heroína de Morfeu


Seu nome era Sebastian Kevin dos Santos, mas todo mundo o chamava de doutor Kevin. Um médico de 32 anos, olhos cor de mel, alto e forte. Tinha um sorriso que fazia todas as mulheres se apaixonarem por ele num instante, desde solteiras até casadas. Mas o homem tinha uma política bem correta. Então não saía com mulheres comprometidas, por mais que elas insistissem. Num dia uma senhora idosa, que ele conhecia como Madu, deu entrada no hospital “São Francisco de Assis”, onde ele trabalhava. A senhora trazia em seu corpo várias escoriações e estava com o braço fraturado. O motivo, segundo ela, era a escada, porém não era segredo para nenhum médico, enfermeira ou mesmo pessoas comuns que a tal escada tinha nome, idade e telefone. Não era a primeira vez que acontecia para a raiva do doutor Kevin, porém a senhora Madu insistia em proteger Roger Alessandro, seu filho vagabundo e drogado. O médico não entendia como uma mãe podia amar tanto seu filho mesmo nessas condições. Kevin tinha muita sensibilidade com os casos de espancamento de idosos, sentia seu sangue ferver de fúria quando escutava no noticiário um caso, ou ainda mais, quando acontecia ali bem debaixo de seu nariz. Suspirou fundo e atendeu a senhora que teve de ficar um tempo internada, pegou seus dados e a sedou para que sentisse menos dor. Apesar de que, não haveria calmante nenhum no mundo capaz de aliviar a dor de uma mãe que é espancada pelo filho.
Assim a noite chegou e Kevin finalmente pôde sair daquele lugar. Então ele pegou seu carro, e foi com ele até uma esquina escura. Deixou o veículo estacionado num lugar que julgou seguro. Ele caminhou uns três quarteirões e avistou a residência, estava tendo uma festa lá. Entretanto Kevin não precisou de um convite para entrar, não era nada de luxo, e quando as mulheres de dentro o viram ficaram extasiadas e excitadas para leva-lo para lá rapidamente. Porém ele sabia que naquela noite a diversão não seria sexual e então ele viu a pessoa que procurava. Roger Alessandro, com seus 29 anos sentado no sofá com uma morena feia em seu colo, sorria e debochava de diversos assuntos. O doutor estava zangado, mas tentou não chamar muita atenção com seus atos e esperou. Quando todos já estavam bêbados ou mesmo drogados, foi a deixa de Kevin. O forte sedativo injetado na artéria de Roger o fez se remexer e cair. Ninguém viu nada, o homem de cabelos pretos e físico “bombado” despencou nos braços do médico. Levou-o para o quarto, ele acordou confuso e questionador. Perguntou coisas como “Você não é o médico da minha mãe?” e “Por que não consigo me mexer?”. O médico pediu para ele ficar calmo que sua morte seria provavelmente rápida e que pra onde ele ia, caso acreditasse em vida pós-morte, não iria poder mais bater em ninguém, sem mais desgostos para sua mãe. Depois disso Roger sorriu, gritou, e falou um monte de palavrões. O médico já não tinha mais paciência e então pegou suas duas injeções de heroína e injetou no espancador de mãe, seria sua última viagem. Aquela situação o favorecia, iria parecer que tinha sido descuido do delinquente, numa morte por overdose, do que um homicídio e se sairia bem.
O doutor Sebastian Kevin odiava que judiciassem de idosos. Pessoas que viveram uma vida inteira com força e vitalidade, quando chegam a um passo de perdê-la sofrem nas mãos dos outros. Isso é desumano e só mostra o quanto as pessoas podem ser cruéis para alcançarem seus objetivos. No caso do médico, sua mãe tinha morrido por causa daquilo. Uma enfermeira era quem cuidava dela e a espancava constantemente. Na época, como estudava bastante para se graduar em medicina e orgulhar a mãe, não estava notando no início os motivos escondidos da agressora. E num fatídico dia ela faleceu, mas Kevin nesse momento já tinha instalado câmeras escondidas e ficou chocado com o que vira. Percebeu até que ponto esse tipo de gente era capaz de chegar. A enfermeira Rosemary foi sua primeira vítima. Podia garantir que Roger Alessandro também não seria o último.
O tempo passou e a polícia civil conseguiu ligar os casos, e em rede municipal disseram haver um justiceiro na cidade. O chamaram de “Morfeu”, o deus grego do sono. Kevin ficou surpreso que pudessem ligar as mortes com os casos de violência contra o idoso, mas se sentia confiante de que não seria capturado. Ainda tinha uma raiva intensa sendo formada, pelo motivo da polícia ter tanto tempo e dinheiro para persegui-lo ao invés de prender realmente aqueles que causavam mal as pessoas de bem. A arrogância de Kevin era sua fraqueza.
A polícia ligou a heroína do assassino ao tráfico de drogas local, mas perceberam no fim que ela era roubada do setor de provas. Então só podia ser uma pessoa interna de suas forças. Com o passar do pente fino eles prenderam o melhor amigo de Kevin, Santiago. Numa visita sigilosa ao amigo na prisão o doutor perguntou o porquê dele não ter entregado o médico como o comprador da heroína roubada. Santiago disse que Kevin fazia um bom uso, o melhor que se podia fazer com uma droga. Surpreso e feliz, o médico agradeceu ao amigo. Prometeu que seu sacrifício não seria em vão.
Hoje o homem de olhos cor de mel ainda faz justiça, só que ele é mais cuidadoso. A dona Madu ficou muito triste com a morte do filho, mas logo superou e recomeçou a vida. Hoje ela vive dançando e sorrindo, levantando a questão. Será que não devemos pagar o mal com a mesma moeda? Independente da resposta, Kevin o continuaria fazendo.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Café Emocional


Adorava o cheiro e principalmente o gosto daquele café. Paulo era um homem na meia idade com seus 40 anos, seus cabelos eram grisalhos e tinha olhos azuis. Todo o dia de manhã antes de ir para a empresa, onde trabalhava como contador, ele passava na cafeteria “Cappuccino”.      “Meu Deus que cheiro bom” pensava toda a manhã, tanto que a boca salivava de vontade de provar daquele viciante líquido negro. O café dividia opiniões, enquanto uns defendiam que ele faz mal a saúde e causa dependência, outros falam que ele combate a depressão e até diabetes. Bom, para Paulo não fazia muita diferença, pois independente do que a ciência provasse, não pararia de tomar o seu café diário. Principalmente o que lhe abria o dia naquela bela cafeteria. O que mais ainda o motivava era Adriele, nossa como era bonita. A jovem, com seus 20 anos, tinha olhos castanhos lindos como grãos de café torrados e um sorriso que tornava a bebida ainda mais saborosa, na opinião do empresário. Era ela quem fazia a bebida que ele mais gostava, o café misturado com chocolate belga, que o fazia ter a sensação de ir ao céu e descer de paraquedas. E se ainda não fosse o bastante, ela de vez em quando ainda servia as mesas. Mas por motivos desconhecidos até então, de uns dias para cá o líquido foi perdendo a graça e se tornando amargo, para a infelicidade do empresário.
Paulo acordou cedo como de costume, fez a barba e saiu preocupado. Apesar de ter muitos problemas na empresa em sua área, não conseguia tirar o medo de perder seu líquido precioso de todas as manhãs. Quando chegou percebeu que Adriele não estava presente no estabelecimento, achou muito estranho e perguntou ao gerente. Ele achou esquisito um cliente se preocupar por uma funcionária específica, mas respondeu dizendo que ela tinha sido internada por motivos de saúde.
Uma semana se passou e o empresário já não estava mais feliz, se estressava com facilidade no trabalho, também em casa com os filhos e a esposa. Ele era casado sim, mas naqueles dias nem conseguia pensar em Sofia, apenas em Adriele. O café amargo de uma senhora rabugenta, que substituía a jovem de olhos castanhos, era horrível e aquilo estava acabando com sua vida e com seu estômago.
Na outra semana a linda atendente voltou e Paulo ficou muito surpreso, pois ela estava com o braço enfaixado. Seus olhos que o contador tanto admirava estavam roxos e ele ainda foi obrigado a presenciar uma briga dela com o chefe, que a advertia para não trabalhar naquelas condições. No fim ela venceu a discussão, continuou o trabalho e fez o café. Porém ele estava péssimo, tinha gosto de água barrenta. Então decidiu que naquela noite ia seguir a moça.
Era aproximadamente oito da noite quando Adriele terminou seu expediente, Paulo estava parado esperando a jovem. Ela então caminhou e pegou um ônibus, por pouco o homem não o perdeu. Mais um ônibus e o metrô. O empresário começou a ficar preocupado de como voltaria para casa, seu celular tocava intensamente. Ora era Sofia, ora o seu chefe querendo saber onde ele estava o dia todo. O porquê dele não ter ido trabalhar. Entretanto conseguiu seguir a mulher até a periferia, um dos bairros mais perigosos da cidade. Ficou a espreita na janela, e pôde escutar com alegria quando uma criança gritou “Mamãe” e a abraçou. Paulo agachado com seu terno não era um espião tão bom, tinha movimento na rua e com certeza ele chamava muita atenção. “Tomara que eu não seja assaltado” pensava. Adriele parecia estar feliz com sua criança, pelo que escutava, era uma menina de uns cinco anos de idade. Nada parecia fora do normal, Paulo já ia ligar para um taxi ir busca-lo. No caminho pensaria em uma boa desculpa para o chefe e a esposa. De repente surge um homem enorme, tudo sujo de graxa, visivelmente embriagado. O empresário teve de se esconder atrás de um pequeno muro quebrado para não ser visto. Ficou horrorizado com os gritos de Adriele, aquele brutamontes estava batendo nela e na filha. E o pior era que ninguém ajudava. Paulo cerrou os punhos e pensou em intervir. Todavia, o que poderia fazer? Não tinha força bruta para encarar o valentão. Ainda mais desde pequeno sua mãe lhe falava que em briga de marido e mulher não se mete colher. Muito triste ele chamou o táxi e voltou para casa. Pensava que se descobrisse o motivo de seu apaixonante café ter perdido o gosto bom, poderia aceitar mais facilmente. Porém, estava enganado, descobrir que aquela bela jovem tinha uma filha e as duas ainda eram espancadas por um “armário” daqueles o fazia sentir-se terrivelmente mal. Pensou em quantos casos semelhantes não devia ocorrer por aí, lembrou-se de uma pesquisa que vira recentemente, onde dizia que uma mulher era espancada a cada cinco minutos. Chegou à sua casa finalmente, levou a maior bronca da esposa e no dia seguinte do chefe. Não tinha criatividade para inventar mentiras, então a história de uma doença e que passara o dia inteiro no hospital não colou muito bem.
Paulo tinha muito dinheiro e prestígio. Mas se sentia incompleto sem o seu café, que a cada dia ia piorando junto com o estado de Adriele. O sorriso lindo dela já tinha sumido há tempos e levado seu líquido precioso junto. Não tinha coragem de enfrentar ninguém, se sentia incapaz. Foi nesse momento que lhe ocorreu uma ideia brilhante. Ele tinha dinheiro, então começou a investir em educação para crianças mostrando o lado horrível da violência contra a mulher. Também investiu muito em conscientização dos adultos e sua campanha foi indo de vento em polpa. Assim com seus ideais ele fundou uma ONG e o assunto se tornou famoso dentro da cidade. Com o tempo Paulo abandonou a empresa que trabalhava para se dedicar a ONG “Não bata nas flores”, que tinha em pauta os assuntos principais deste terrível ato contra, principalmente, crianças e mulheres. Sofia no começo não gostou da ideia de reduzir seu nível de vida, mas depois de ver o empenho do marido percebeu que era a mulher mais sortuda do mundo.
Então um ano se passou, a ONG era internacionalmente conhecida e recebia investimentos de diversas áreas. Os crimes contra as mulheres caíram drasticamente e uma maior rigidez penal tinha sido adicionada aos casos. A cafeteria “Cappuccino” não parecia ter mudado muito, Paulo já não tomava café mais lá por um bom tempo. A saudade estranhamente daquele dia bateu mais forte e ele resolveu entrar. Quando sentiu o cheiro do café e viu Adriele com seu sorriso, sentiu uma sensação gostosa de “os bons tempos voltaram”. Quando ela o viu preparou o seu café com chocolate belga mesmo antes de Paulo pedir. Serviu ele pessoalmente e sorridente, ela ainda estava mais linda. Mas a sua maior surpresa foi quando olhou para o líquido e o creme tinha sido especialmente trabalhado formando a palavra “obrigada”. Nesse momento foi impossível conter as lágrimas e aquele homem finalmente percebeu que não se combate violência com mais violência e que não é preciso ter força física para lutar contra algo. Parecia que coisas boas tinham acontecido na vida de Adriele. Assim, feliz demais, ele saboreou o café mais gostoso que já tinha tomado na vida, e pôde sentir o seu velho vício da cafeteria “Cappuccino” voltando com força total.