Li e recomendo o livro de Christopher Vogler
A Jornada do Escritor: Estruturas Míticas para Escritores.
Avalio com nota 10, considerando-o excelente.
Resenha e avaliação completa segue abaixo: (CUIDADO: Revelações do conteúdo! SPOILERS!)
Título: A Jornada
do Escritor: Estruturas Míticas para Escritores.
Autor: Christopher
Vogler.
Tradutor: Ana
Maria Machado.
Gênero: Redação
de textos para cinema.
Bibliografia: A jornada
do escritor: estruturas míticas para escritores/ Christopher Vogler; [tradução
de Ana Maria Machado] – 2ª ed.– Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
Resumo: O
livro trata de técnicas elaboradas para a criação e aperfeiçoamento de histórias
se baseando na jornada do herói, um conjunto de 12 passos que servem para
torna-la universal. Porém não se é uma receita de bolo, são sugestões que devem
ser usadas como uma fonte de inspiração.
O herói pode ser tanto um
homem como uma mulher, sua face de guerreiro é apenas uma das faces. Para
Vogler apresentar melhor as ideias de seu livro, ele o ilustra com exemplos de diversos
filmes produzidos ultimamente, como Rei Leão, Titanic, Pulp Fiction, Guerra nas
Estrelas e vários outros. Sendo alguns mais bem trabalhados em capítulos a
parte.
O trabalho de Vogler é
baseado no do mitólogo Joseph Campbell, que é o verdadeiro descobridor da
Jornada do herói e autor do livro “O herói de mil faces”. Use as regras deste
livro para criar histórias mais cativantes, todavia desafie essas ideias,
ponha-as às provas na prática, adapte-as a suas necessidades, faça com que elas
fiquem sendo suas.
Arquétipos são os diferentes
tipos de personagens que se costumam ter nas histórias. Existem diversos tipos,
porém os mais comuns são: Herói (Aquele que protege e serve, a plateia é
convidada a se identificar com ele), Mentor (velha ou velho sábio geralmente,
que ajuda ou treina o herói e ainda lhe dá presentes que o ajudarão em sua
jornada), Guardião de Limiar (Na maioria das vezes são capatazes do vilão,
asseclas menores ou mercenários contratados, sua função é ser um obstáculo na
jornada do herói), Arauto (Alerta o herói que a mudança e a aventura estão
chegando), Camaleão (Personagens que mudam de aparência ou de estado de
espírito, é um dúvida se pode confiar neles), Sombra (Vilões, antagonistas ou
inimigos) e Pícaro (Palhaço responsável pelo alívio cômico).
No fim de cada estágio o autor coloca umas perguntas
muito legais para questionar se a jornada está indo bem.
O primeiro estágio é o “Mundo
Comum”. O mundo cotidiano do herói que deve contrastar bem com o Mundo Especial,
para que o leitor experimente uma mudança dramática no clima. Desde o início da
história deve se definir muito bem o que está em jogo. O que ele ganha se
vencer e o que ele perde se fracassar?
O segundo estágio é o
“Chamado à Aventura”. Acontece um evento que dá a partida na história, que
pretende tirar o herói de seu mundo comum.
O terceiro estágio é a
“Recusa do Chamado”. Aqui não necessariamente o herói nega ir à aventura, entretanto
é uma parte dramática importante da história onde a principal função é mostrar
ao leitor que a aventura é perigosa e cheia de riscos.
O quarto estágio é o
“Encontro com o Mentor”. O arquétipo que entre seus inúmeros serviços ao herói
incluem a proteção, orientação, treinamento e fornecimento de dons ou presente
mágicos. A função principal desse estágio é fazer com que o herói receba as
provisões, o conhecimento e a confiança necessários para superar o medo e
começar a sua aventura. É bom evitar os clichês de Mentor, como o velho de
barba branca estilo Merlin.
O quinto estágio é a
“Travessia do Primeiro Limiar”. Nesse, o herói se envolve com a ação da
aventura e se compromete integralmente com ela. É comum de se encontrar seres
que tentam impedir a sua passagem. Aqui entram os Guardiões de Limiar, um
arquétipo poderoso e útil, que podem ser transformados em aliados.
O sexto estágio é “Testes,
Aliados e Inimigos”. O herói é um calouro no mundo especial, devem ser sentidas
estas mudanças. Ele passa por inúmeros testes onde se fazem aliados e inimigos.
Pode montar equipes e conhecer um rival.
O sétimo estágio é a
“Aproximação da Caverna Oculta”. É a etapa da preparação para a provação
central da aventura. Os pistoleiros verificam suas armas, os toureiros vestem
cuidadosamente os seus trajes coloridos.
O oitavo estágio é a
“Provação”. O herói está no aposento mais profundo da Caverna Oculta,
enfrentando o maior desafio e o mais temível adversário. É a chance de se
ganhar ou morrer. O herói precisa morrer para renascer. Esse é o movimento
dramático do qual o leitor mais gosta. O momento de crise, o acontecimento
principal do segundo ato. É comum que este momento venha perto do meio da
história.
O herói não precisa morrer,
ele pode também ser testemunha de uma morte ou mesmo o causador. Pode chegar
bem próximo da morte, mas é o vilão que morre. Todavia isto não deve ser algo
que o protagonista consiga com facilidade, este antagonista deve estar em um
nível a sua altura e representar um desafio verdadeiro. Um herói arrisca sua
vida individual por amor à vida coletiva e conquista o direito de ser chamado
Herói.
O estágio nove é a
“Recompensa (Apanhando a Espada)”. O herói experimenta as consequências de ter
sobrevivido a morte, saboreiam seus prazeres. É um momento onde se é natural a
vontade de comemoração, onde há tempo para descansar, recuperar e abastecer.
Promover os heróis após as batalhas ou armá-los cavaleiros são outros meios de
reconhecer que eles ultrapassaram alguma prova duríssima e entraram num pequeno
grupo de sobreviventes especiais.
Podem acontecer distorções,
o herói após a provação ter seu ego inflamado, tornar-se convencido ou
arrogante. Pode até abusar do privilégio de ser herói. Muitos acabam se
tornando tão maus quanto os vilões que combatem.
O estágio dez é o “Caminho
de Volta”. Eles se dedicam novamente à aventura e tem suas atenções voltadas
para o objetivo principal e final de sua trama. Nesse momento novas provações
surgem. Pode ocorrer uma cena de perseguição e ser necessário o Herói fazer
sacrifícios.
O estágio onze é a
“Ressureição”. Este é o clímax, onde ocorre o encontro mais perigoso do herói
com a morte. Os heróis devem mudar e o escritor deve mostrar isto na ação ou
aparência do personagem, e não apenas contar. Este é o momento explosivo, o
ponto mais alto de energia, ou o último grande acontecimento de uma obra, a
batalha final que pode acontecer unicamente ou em uma série. Mas isso não impede
que a história tenha um clímax tranquilo.
O herói trágico pode morrer
nesta parte e deixar um legado que muda tudo.
O clímax deve provocar a
sensação de catarse, que significa “vomitar” ou “expurgar” emoções. Os gatilhos
desta catarse podem ser gargalhadas, lágrimas e arrepios de terror que irão
detonar essa limpeza sadia. Sendo o riso um dos mais fortes canais.
Um erro muito comum é fazer
o herói mudar abruptamente, ou seja, do dia para noite. Não é que seja
impossível, mas a maioria das pessoas muda aos poucos.
O estágio doze e último é o
“Retorno com o Elixir”. Os heróis regressam a seu ponto de partida, voltam para
casa ou continuam sua jornada. O significado de retornar com o elixir é
introduzir a mudança em sua vida cotidiana e usar as lições aprendidas na
aventura para curar as feridas. É necessário amarrar as pontas soltas. Fecha-se
o ciclo. Algumas histórias mantém o final aberto, mas são menos populares,
deixam propositadamente pontas soltas.
Neste fim o herói deve ter
recebido sua recompensa e o vilão ter sido devidamente punido. O Elixir pode
ser qualquer das coisas que levam as pessoas à aventura como o dinheiro, fama,
poder, amor, entre outros.
Um erro comum que pode
estragar tudo é o retorno ser abrupto demais, muito prolongado, fora de foco,
sem surpresas ou insatisfatório.
O círculo está completo. Cuidado,
a jornada do Herói é apenas um roteiro, uma sugestão, um mapa para se consultar
quando se está perdido. As necessidades da história é que ditam a sua
estrutura.
A jornada do escritor é a
jornada de um herói que busca o sucesso. A editora ou seus próprios sentimentos
podem agir como guardiões de limiar e provações. E a cada uma delas ele se
torna mais forte e bem preparado para as provações futuras. Lutando e vencendo
os limiares em busca de encontrar seu Elixir. Por isso o escritor nunca deve
desistir de sua jornada e no fim conseguir retornar com o que pretendeu buscar
no maravilhoso mundo especial da escrita.
Opinião
sobre o livro: O livro é ótimo, sensacional. Trabalha
muito bem as ideias de uma maneira tranquila, não sendo abrupto demais ou
demorado em extremo. Assim se consegue compreender bem o que Vogler deseja
passar com sua obra.
Um ponto forte são os
exemplos que fazem a contextualização ideal. Não há como não gostar deste
livro, mesmo que o leitor não aspire ser um escritor. Com certeza aqui se
aprende grandes lições e principalmente de como perceber outras por detrás das
inúmeras histórias espalhadas por aí.
Não encontro pontos
negativos que mereçam ser realmente citados. Afinal a obra é muito aberta para
o leitor discordar e fazer diferente.
Avaliação
Final: Nota 10. (Excelente)