domingo, 16 de dezembro de 2012

Antes que seja tarde demais


por Luís Krisaor

Numa cidade do interior, Nova Ferrovia era o nome, vivia um rapaz de 18 anos. Chamava Roberto, era magro, tinha cabelos curtos castanho e olhos da mesma cor. Gostava de se vestir de preto com camisas de gola em V. Era determinado, gostava sempre de aprender mais e trabalhava todos os dias sem reclamar. Não gostava muito de socializar, usava óculos com pouco grau.
__ Precisa dar mais atenção as pessoas que você gosta Roberto, meu filho!
__ Eu já faço isso pai, não dê palpite onde você não é chamado.
Novamente o jovem trabalhador perdera a paciência com seu pai que era um velhinho com seus 80 anos que ficava muito triste vendo cada vez mais seu único filho se distanciar das pessoas e se aproximar mais das máquinas. Ele se chamava Raul e gostava de usar camisa social com calça jeans, o chapéu de couro bege com uma abotoadeira no meio com a figura de um boi era sua característica mais marcante. Não podendo esquecer de seu bigode branco e seu velho cachimbo de madeira.
__ Frio e calculista, desse jeito sua namorada não vai te aguentar!
O rapaz de olhos castanho sentiu uma fúria por dentro:
__ ME DEIXA EM PAAZZZZZ VELHO! NÃO É PORQUE A MAMÃE TE LARGOU POR SER UM INÚTIL QUE A MESMA COISA VAI ACONTECER COMIGO! - gritava muito
Raul que era seu pai ficou cabisbaixo completamente sem saber o que dizer. Roberto no começo sentiu orgulho de ter expressado seu ponto de vista e calado a boca do velho caubói, mas a medida que o tempo passou ( cerca de 20 segundos) começou a surgir um remorso que o irritava ainda mais. Desnorteado pegou sua jaqueta de lã preta e seu chaveiro e saiu em direção a sua moto.
__ Onde vai? - perguntou o pai
__ Não é de sua conta. - respondeu rispidamente
Enquanto caminhava o jovem de jaqueta pegou o seu celular no bolso e ligou para uma pessoa. Ligou outra vez e mais outra. Cada vez sua fúria aumentava ouvindo a mulher da central de telefonia falar que o celular estava impossibilitado de receber chamadas no momento.
__ Desligou, só pode estar me traindo. Merda! Por quê não atende esta droga! - pensava furioso
Os pensamentos dele estavam confusos, sentimentos depressivos começaram a tomar conta de sua mente como o medo de ficar só. Sentia-se muito bravo por pensar assim e a única coisa que o acalmava era a velocidade. Sentir o vento passar o aliviava qualquer raiva.
Subiu na moto e deu partida, quando o ponteiro do velocímetro passou de 100 km/h ele sorriu sentindo-se o Deus do mundo. Pena que ele não imaginou que um carro preto esportivo iria avançar a parada obrigatória. Foi lançado ao chão o pobre rapaz bruto, nisso ele ficou semi inconsciente, acordava, desmaiava e ouvia:
__ A situação é muito ruim! - dizia o paramédico
__ Vamos levá-lo! - gritou o outro
Novamente Roberto apagou. Quando sentiu a claridade incomodar abriu os olhos e viu em sua frente uma jovem linda que era branca, tinha os olhos azuis com cabelos negros de uma noite sem lua e estrelas. Ela estava com um vestido vermelho e chorava muito.
__ Ân...gela. - pronunciou com dificuldade
__ Beto. - ela chorou ainda mais
__ O que houve?
__ Um acidente, sua moto deu perca total, o motorista do carro fugiu e você...
__ Minha moto! - interrompeu gritando - Aquele desgraçado, quando eu sair daqui vou caminhando achá-lo e fazer com que  pague.
Quando disse estas palavras, a jovem de vestido vermelho que tinha 17 anos ficou com os olhos ainda mais tristes e começou a soluçar de tanto que se debulhava em lágrimas. Ver aquela cena apavorou o jovem motoqueiro naquele leito de hospital.
__ Meu amor, o que aconteceu comigo?
Ela o encarou, suspirou fundo. Tomou coragem, abriu a boca mas fechou de novo. Olhou o namorado nos olhos e tentou outra vez:
__ Por causa do acidente você foi operado, mas surgiram muitas complicações e ... - ela chorava
__ Diga logo! - Roberto gritou
__ Amputaram suas pernas!
Não acreditava no que tinha ouvido, mas agora que ela falara percebeu que não sentia suas pernas. Antes tão preocupado com  a moto que esqueceu de si mesmo. Então ele chorou um choro que nunca tinha tido em toda sua vida.
O tempo passou e ele teve alta do hospital, saiu de cadeira de rodas. Mesmo com todas as suas dificuldades Ângela não o abandonou e eles se casaram. A medida que os anos foram passando ( cerca de 10 anos) a situação foi complicando. Roberto brigava frequentemente com a esposa e a chamava de puta, falava que ela o traía com outros e só estava com ele por ter pena de inválidos. No começo suportou tudo com bravura, mas depois o amor foi definhando e ela acabou se apaixonando de verdade por um colega de trabalho. Foi assim que ela o largou, mas ainda pagava as despesas de um enfermeira.
Seu pai morreu pouco depois disso de um ataque do coração e numa visita ao túmulo:
__ Você deve estar rindo disso né seu velho.
__ Senhor, vamos embora que logo vai chover. - falou a enfermeira
__ Me deixa sua gorda mal amada! - berrou
Dolores que cuidava de Roberto se irritou de um vez por todas com aqueles xingamentos.
__ Seu deficiente maldito, seja mais humilde! - gritou e se retirou
O homem na cadeira de rodas abaixou a cabeça e começou a pensar. O tempo desabou e um chuva forte começou no momento que ele começou a chorar. As lágrimas se misturavam na água do temporal. Baixinho ele disse:
__ Se eu tivesse te ouvido pai... - chorava e soluçava - ... não estaria assim, me desculpe.
O coração de Roberto começou a doer, ele caiu na lama do cemitério e viu sua vida de humilhações aos outros passar por seus olhos. E antes de perder a consciência viu a imagem de sua ex-esposa jovem sorrindo.
__ Ângela... desculpe por tudo isso. - sussurrou no chão
Perdido no inconsciente de sua alma começou a escutar barulhos de sirene, abriu os olhos e estava no meio de uma avenida em uma maca sendo colocado numa ambulância com dois paramédicos auxiliando.
__ O quê? - perguntou incrédulo
__ Você acordou, que bom. - disse o paramédico
__ O que houve?
__ Você teve um acidente de moto, mas vai ficar tudo bem, logo poderá ir pra casa. Vamos somente averiguar por rotina.Parece que fraturou a perna.
Nesse momento Roberto estava pasmo com uma expressão de incrédulo, então vendo que era tudo verdade chorou, mas de felicidade.  Depois disso ele passou um tempo no hospital com a perna quebrada e então virou uma pessoa nova. Tornou-se educado, começou a treinar o controle de sua raiva com auxílio de sua namorada que mais tarde se tornou esposa, seu pai e muitos amigos que acabou fazendo. E então veio os filhos e ele percebeu na pele o que era o amor de um pai e o que o seu queria dizer com aqueles conselhos todos.
__ Uma segunda chance... - ele pensava na varanda vendo seus filhos brincarem no quintal - Isso não é pra qualquer um. Na verdade isso quase nunca ocorre. É necessário pensar antes de falar, não fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem conosco.

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