sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O amor no sorriso da criança



Isabela era uma mulher linda, tinha seus 25 anos, cabelos negros, lisos e longos. Seus olhos castanhos hipnotizavam a maioria dos homens. Era branca e tinha um corpo esbelto, que despertava a luxúria dos machos e a inveja das fêmeas. Entretanto como tinha uma forte religiosidade, não se preocupava em sair para paquerar ou se exibir.
Parecia que ia ser um dia comum, apesar de que o calor estava anormal. Trabalhava há muito tempo numa pequena farmácia de Divinópolis, não tinha feito curso superior por ter que ajudar em casa com parte de seu salário, uma vez que o pai estava doente para poder trabalhar e o governo o segurava até quando podia com a possibilidade de aposentá-lo. Assim com sua grande devoção familiar deixou os estudos de lado, entretanto conseguiu seu emprego numa área que admirava muito, e nela há muitas pessoas formadas que ficam abaixo da bela morena em conhecimento. Seu sonho era estudar ali mesmo na cidade que estava, tinha a possibilidade de fazer o curso de seus sonhos, a tão desejada Farmácia na Universidade Federal de São João Del Rey que mantinha um campus no município. A situação de sua família estava melhorando com o aumento que ganhara recentemente, sua mãe mantinha um pequeno salão de beleza na garagem de casa que finalmente começara a render algo. Sua irmã mais nova, Nicole, tinha acabado de fazer 18 anos conseguiu um emprego numa fábrica de tecidos na cidade. Com isso a responsabilidade das contas sairia de seus ombros apenas e seu sonho se tonaria palpável, mais realidade do que fantasia.
__ Acho que se jogarmos um pouco de óleo naquele asfalto com um ovo ele frita, você não acha, Bela? – falava um homem baixo, gordo e careca.
__O quê? – estava distraída a jovem de olhos castanhos – É verdade sim, senhor Benedito.
__ Não me chame assim, já trabalha pra mim há tanto tempo. Não é só porque sou o dono da Farmácia São Tomé que precisa ser formal.
__ Desculpe... Meus pais me ensinaram a tratar nossos chefes assim. – disse sorrindo, com os belos dentes brancos que tinha.
__ Isso mesmo, para de arrastar as asas pra cima da Isabela, velho safado. – dizia uma loira carregando uma caixa de remédios
__ Umas respeitam demais e outras de menos. – reclamou o dono
Todos riram, pois tinham uma relação de amizade com o chefe, não muito comum nos comércios atuais. Junto com Isabela, trabalhava Alessandra de 20 anos, que tinha vasta cabeleira loira, olhos verdes e um corpo lindo também. Além disso, o dono Benedito sempre tentando dar-se bem com uma das duas, mas sempre em vão. Uma farmácia pequena, mas aconchegante.
De repente um homem entra na loja cambaleante, tromba nas prateleiras dos fármacos caindo no colo de Isabela. Molhado em suor, ele grita:
__ Me ajuuudem! – então ele perde os sentidos ficando inconsciente
Todos muito assustados tentam acudir o jovem, entretanto ninguém sabe o que realmente aconteceu. A morena, então com o rapaz nos braços sente seu pulso, percebendo que sua pele estava fria, tenta algo:
__ Tragam-me um doce líquido, por favor. Rápido, Alessandra!
A loira se apressa e traz um vidro de mel, então Isabela começa a passar nos lábios do jovem. Passado alguns minutos a temperatura volta ao normal, o suor tinha parado de sair e juntos colocaram o paciente num pequeno colchão, que tinham nos fundos da farmácia.
__ Uma crise de hipoglicemia, ainda bem que a Isabela percebeu rápido. – falava o dono
__ Realmente... – concordou Alessandra
__ Onde ela está?
__ Está com ele, na sala de inferir pressão.
Preocupada com a possibilidade de acontecer algum outro ataque, a moça de olhos castanhos estava cuidando do jovem. Então este começou a abrir os olhos, que eram azuis:
__ Eu morri... – perguntou
__ Não, por quê?
__ Era essa a intenção, também vejo um anjo quando acabo de acordar, o que acha que vou pensar?
Isabela corou, sentiu o coração bater rápido. Estava acostumada a ouvir elogios, de homens que desejavam apenas seu corpo, nunca se abalava com isso, entretanto o que sentia naquela hora era diferente. Mas uma raiva cresceu também e ela deu um tabefe na cara do homem:
__ Seu idiota! Tanta gente querendo viver e você faz isso, abusado!
O rapaz se chamava Sérgio e tinha 20 anos, com seus olhos azuis fazia o maior sucesso com a mulherada. Adorava beber até cair no chão, acordar em diferentes camas com diferentes garotas. Também era viciado em doce desde menino e comia muito, quando tinha 18 anos descobriu que tinha diabetes, com a vida limitada passou a odiar Deus e quando tocava nesse assunto se irritava profundamente. Achava que se existisse um realmente, não o faria passar por isso. Mas todos se preocupavam em passar a mão em sua cabeça, ninguém antes como aquela jovem de cabelos pretos tinha sido tão radical. Quando recebeu o tapa no rosto e o xingamento, veio em sua mente imagens de cegos, paralíticos, deficientes mentais e muitas outras necessidades especiais. Sentiu-se com raiva de Deus, mas não da bela jovem na sua frente, começou a se sentir ignorante e ridículo. “Muitos lutam pela vida e eu desisto fácil assim” pensava.
__ Me desculpe... Qual o seu nome?
__ Me chamo... O meu nome é... Ah! – ficou toda sem graça
__ O nome dela é Isabela, senhor Sérgio, seus documentos caíram no chão da farmácia.
O rapaz de olhos azuis pegou sua carteira com Alessandra, desculpou-se pelos inconvenientes e saiu dali. Trabalhava como motoboy, no restante do dia se cuidou para manter sua taxa de glicose controlada para não ter outra crise. Tinha o corpo malhado apesar da doença, mantinha o tanto que fosse possível a academia em sua rotina. Achou estranho, podia transar com qualquer mulher, beijar bocas diferentes, as que ele quisesse, mas não conseguia tirar Isabela da cabeça.
Não resistiu mais, e começou a passar todos os dias na farmácia. Arrancava umas palavras da mulher tímida e sentia-se muito feliz somente por vê-la sorrir. Tinha levado tantas mulheres para cama, olhado para tantas bundas e par de seios, todavia só agora tinha parado para reparar como era bonito o jeito de olhar e o sorriso de uma mulher. O de Isabela era ainda mais divino, como se realmente existisse um cupido que tivera lhe atirado uma bela flechada, estava completamente apaixonado como nunca esteve em sua vida. Aos pouco abandonou as bebidas, os cigarros e o descaso com sua doença. Seus amigos nem o reconheceram mais quando o viram saindo do culto evangélico junto com a bela jovem de cabelos negros.
Isabela sentia o mesmo sentimento bom, tinha namorado somente uma vez na sua vida com Leandro, terminara, pois este pensava somente no sexual. Nunca tinha se entregado a nenhum homem, nem mesmo ao seu primeiro namorado como é comum nos tempos de hoje. Seu amor era colegial ou até mais primário, aquele onde somente mãos dadas eram suficientes para acelerar os batimentos cardíacos ou fazer borboletas voarem no estômago.
Passaram dois meses de conversas, sorrisos e brincadeiras. Então num momento corajoso Sérgio pediu-a em namoro. Mais vermelha que um pimentão ela aceitou, entretanto ainda não o levou para conhecer seus pais.
A luxúria resolveu pegar carona no sentimento puro do amor, então Sérgio levou-a a sua casa. O sentimento foi ao extremo, ela não queria saber de mais nada e se entregou ao jovem. Aquilo era loucura, era mais velha do que ele, sua família não ia aceitar. Mas não se preocupou com nada, nem mesmo em se prevenir. Ele muito menos.
__ Por que esta cara Bela? – perguntava Alessandra
Com uma expressão triste bastou a pergunta para desabar lágrimas no rosto da jovem. Amigas desde o colegial, antes mesmo de trabalharem na mesma farmácia, Isabela confiou o seu medo.
__ Ai meu Deus amiga, como você que está sempre tão centrada foi deixar isso acontecer.
__ Eu sei... – ela chorava
__ Escute, você tem que falar com o Sérgio, ele tem o direito de saber disso.
__ Mas já faz dois dias que ele não me liga... Tenho medo que me largue, não quero ficar sozinha nessa situação.
“Será que tinha sido uma burrice?” pensava Bela. Então reuniu coragem e conversou com seu namorado. Ele tinha tido uma recaída alcoólica e por isso com uma vergonha imensa não tinha dado sinal de vida por dois dias.
__ Estou grávida! – ela disse
Nesse momento um temporal caiu na cidade, uma chuva forte. Estavam os dois ali sentados onde se conheceram, nos fundos da farmácia. Ciente da situação de Isabela, Benedito achou melhor que conversassem ali. A chuva parecia que queria dissolver o mundo devido à violência e quantidade que caía. O mundo de Sérgio era pequeno, somente a moto e sua mãe, uma viúva, que passava a maior parte do tempo drogada. Tinha sua doença, uma dúvida se poderia ser um bom pai, isto passava por sua cabeça.
__ Me desculpe... – ela disse chorando tampando a cabeça morrendo de vergonha
__ Nunca vou perdoá-la! – ele disse sério
Aquelas palavras foram como lanças que perfuraram seu coração, imaginava que aquilo ia acontecer, não iria assumir, ela seria mãe solteira, não poderia estudar e o romance da sua vida tinha passado como um trem bala que ela mal vira.
__ Não posso perdoá-la, desculpe... – ele continuou enquanto ela chorava – Não posso mesmo desculpar você por ter... Feito de mim o homem mais feliz da face da terra.
Não acreditou nas palavras que tinha acabado de ouvir, aquilo era surreal. Olhou para ele que começou a chorar, mas de felicidade. Estava mesmo alegre de se tornar pai.
__ Não está com raiva de mim?
__ Como poderia estar com raiva da mãe mais linda que eu poderia ter arrumado para o meu bebê.
Ela sorriu sentindo uma alegria tão grande, que parecia que ia rasgá-la por dentro. As gotas da chuva competiam com as lágrimas do jovem casal. Sérgio, então falou:
__ Não existia significado pra minha vida, meu amor. Eu achava que felicidade significava festas, bebedeiras, até drogas eu usei. Sexo desvairado também. Quando minha doença surgiu, achei que era Deus me punindo por minhas ações, mas foi a minha resistência a ela que me trouxe a crise, e estas me levaram até você. Agora entendo o que é amor de verdade e uma real felicidade tomou conta do meu ser. Eu te amo!
__ Nunca me entreguei a nenhum homem, mas senti que você tinha algo especial. Fico feliz que não me abandonou. Eu te amo muito mesmo, de verdade!
Um beijo aconteceu, um beijo caloroso de amor, de mãe para pai, de amante para amante e de menino para menina. Era simplesmente amor que não pode ser explicado por simples palavras, elas não conseguem manifestar a beleza infinita deste lindo sentimento.
Sérgio abandou completamente sua vida das coisas mundanas. Casou-se com Isabela, depois de ter levado uma surra do sogro bravo quando este descobriu que sua filha estava grávida. Depois aprovou. A vida foi melhorando, o homem de olhos azuis tirou carteira de caminhão, trabalhava dia e noite para que pudessem comprar uma casa. O pai da linda jovem de cabelos negros doou um pedaço do terreno dele para que eles pudessem construir.
Finalmente no mês de outubro num belo dia nasceu um menino, que herdara os belos olhos azuis do pai e os lindos cabelos negros lisos da mãe.
__ Ele se chamará Emanuel, para mostrar que Deus sempre estará conosco. Sua bondade abençoará nosso lar e sempre veremos nosso amor refletido no sorriso de nossa criança. – disse Isabela
A mãe de Sérgio largou as drogas e se tornou uma excelente vó, com a ajuda de todos Isabela depois pôde voltar a estudar onde se formou como primeira da turma. Com a ajuda de seus familiares, marido, próprio esforço e financiamento do banco adquiriu sua própria farmácia. O nascimento de uma criança é uma benção divina que traz ainda mais amor e alegria a vida dos tristes humanos. Apesar dos contratempos da vida real, pode-se dizer que viveram felizes para sempre.

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